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Aumento no mercado de seguros

Houve um tempo em que a expressão “ladrão de bicicleta” referia-se aos inexperientes no crime, responsáveis por pequenos delitos. Hoje, o termo ganhou outro sentido. Com o aumento das bicicletas na cidade e a diversificação de marcas e preços, quem as rouba sabe que tem na mão um produto valioso, que chega a custar R$ 30 mil.

Segundo a pesquisa origem/destino do Metrô, 300 mil paulistanos usam a bicicleta diariamente. “O estudo só conta os que vão de casa até o trabalho pedalando, não considera aqueles que vão até o bicicletário do metrô e deixam lá”, diz Thiago Benicchio, diretor da Ciclocidade, associação de ciclistas urbanos. A entidade estima que de 600 mil a 1 milhão de pessoas utilizem a bicicleta ao menos um dia na semana. “Quanto mais gente usar, mais roubos haverá. O prejuízo é alto porque as bicicletas são muito caras.”

A Secretaria de Segurança Pública não tem estatística sobre furtos e roubos de bicicletas, mas a crescente demanda por seguros para o produto indica que os ciclistas estão na mira de ladrões. Em São Paulo, em uma seguradora dedicada à nova modalidade, por exemplo, o número de clientes cresceu 70% desde 2008.

Arturo Alcorta, consultor em ciclismo urbano, diz que há dois tipos de ladrão: aquele que rouba qualquer bicicleta e outro que se concentra em modelos top de linha. Segundo ele, há quadrilhas especializadas, que conhecem as mais caras. “Você não desaparece com uma bicicleta de R$ 20 mil. Como são numeradas, muitas são vendidas no exterior.”

Seguro

A Estar Seguro, que administra 800 apólices, pagou, até julho deste ano, R$ 61.774 em sinistros. Em 2009 inteiro, foram R$ 57.743. “Criei a corretora há cinco anos. Antes, era raro alguém se interessar. Agora, as pessoas estão investindo mais na compra de bicicletas e ficam com medo”, diz Luiz Fernando Giovannini.

Há um mês, o engenheiro civil Boris Divis, 54, teve sua mountain bike, estimada em R$ 14 mil, roubada em um trevo de Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo. Dois homens desceram de uma picape, levaram a bicicleta, os óculos e o capacete. Cinco meses antes, ele havia feito o seguro. “Um amigo disse que tinha sido roubado. Fiquei com medo”, diz ele, que tem outra bicicleta, de R$ 40 mil, também assegurada. O engenheiro pagou R$ 780 pelo seguro de ambas e R$ 2.000 de franquia pela que foi roubada.

A apólice foi feita na Kalassa, corretora que só aceita bicicletas acima de R$ 5.000. O corretor José Carlos Anastácio Jr. conta que a maior parte das 1.200 asseguradas é de atletas, gente que costuma pedalar em rodovias como Imigrantes, Anhanguera e Bandeirantes e na USP –locais apontados como os mais arriscados. “As bicicletas são importadas e custam cerca de R$ 30 mil, por isso são tão visadas”, diz ele. As preferidas dos ladrões são marcas como Specialized, Scott e Trek.

A economista Sylvia Toledo, 56, ficou conhecida por um triste episódio que viveu na USP em junho de 2009. É ela que aparece em um vídeo, disponível na internet, sendo agredida com chutes por ladrões que, em seguida, tomam sua bicicleta. “Eles saltam armados e gritando que vão te matar. A sensação é de impotência total”, lembra.

Sua bicicleta custava R$ 2.000, mas ela acredita que o verdadeiro alvo era uma amiga que pedalava no grupo em uma Scott de R$ 27 mil, que reagiu, não perdeu a bicicleta, mas ficou com uma costela quebrada. Sylvia não pedala mais na USP e sua amiga passou a ocultar o nome Scott com fita adesiva para que os ladrões não reconheçam a marca -estratégia, aliás, muito usada por ciclistas da cidade.

“B.O.” na web

Sem estatísticas oficiais, os ciclistas criaram uma forma própria de computar as ocorrências. O carioca Pedro Cury, 30, é o responsável pelo Cadastro Nacional de Bicicletas Roubadas, disponível no site www.bicicletasroubadas.com.br.

No endereço, a vítima registra o fato, posta fotos da bicicleta e descreve a abordagem. As informações ficam disponíveis na rede e são encaminhadas a bicicletarias.

Em um caso, quando o ladrão tentou repassar a bicicleta para uma loja, o dono reconheceu a peça. “Mas recuperar as bikes não é o único objetivo. Queremos saber as áreas e situações de risco, o comportamento dos ladrões e gerar estatísticas”, diz Cury.

Já existem pistas sobre as estratégias de quem rouba. Além da tentativa de vender o objeto às bicicletarias, um dos destinos das bicicletas são as feiras do rolo. Apesar de a prática ser ilegal, esse comércio de produtos usados existe em vários pontos da cidade. No domingo passado, numa feira ao lado do terminal de São Mateus (zona leste), a Gallo com suspensão de 120 mm, que na loja custa R$ 1.000, era vendida por R$ 400.

Na região do Brás, também havia peças de origem suspeita. A Kona 27 marchas com freio hidráulico, que custa R$ 3.300, era vendida a R$ 1.200. Para estimular a compra, o vendedor dizia que o preço de mercado é R$ 5.800. Quem se arrisca a comprar uma bicicleta sem nota fiscal pode responder pelo crime de receptação. A pena é de um a quatro anos de reclusão, mais multa.

Na feira do Brás, o ciclista Joselito Oliveira, que acompanhou a reportagem, reconheceu um ambulante que chegou a participar de um dos pedais (como são chamados os grupos que pedalam juntos). Segundo Oliveira, pode ser que eles se infiltrem no grupo para conhecer os participantes e seus hábitos.

Uma mostra de que alguns ladrões conhecem o ramo foi o que aconteceu na loja Dragon Bike, na Pompeia, arrombada duas vezes. Foram levadas apenas as melhores bicicletas. “Eles passaram por cima das da vitrine, que são mais baratas, e levaram todas as de R$ 3.000 para cima. Eles vêm de dia, perguntam o preço e já olham tudo”, diz o proprietário, Fernando Fonseca, 42.

O lojista diz que a bicicletaria na rua vizinha também foi assaltada recentemente. “Quase todas as que conheço já foram roubadas.”

Segundo ele, quando isso acontece, o proprietário envia um e-mail para vários outros do mesmo ramo com a relação dos itens levados. Evita-se, assim, que os ladrões consigam vendê-los no comércio como se fossem peças de segunda mão.

Outras precauções que algumas lojas tomam é pedir a nota fiscal para quem quer vender a bicicleta, além de pagar só com mercadorias –isso atrai o cliente que deseja trocar sua bicicleta por outra mais cara e afugenta os ladrões.

Parques

Além da USP, os parques municipais também estão na lista de lugares visados. Em 2009, foram registrados 31 furtos no Ibirapuera e a Secretaria de Segurança Urbana quer instalar câmeras no local.

Também há casos no parque Villa-Lobos, na zona oeste da cidade. A administradora Paula Cadette, 42, nunca imaginou que pudesse ser assaltada lá dentro num domingo de manhã –mas foi o que aconteceu, há um mês. Ela estava com os filhos de 13 e 14 anos no estacionamento quando foi abordada por três homens. Sua filha, que reagiu instintivamente, levou um murro. Os ladrões fugiram pedalando nas bicicletas, que custavam R$ 3.000 cada uma.

“Elas eram novas, equipadas. Eles viram que era coisa boa”, diz Paula. “Fico triste porque é um esporte tão gostoso. O parque estava lotado e eu estava tranquila, sem proteção nenhuma.”

Outro local que se tornou alvo é um trecho da rodovia Imigrantes, depois do núcleo Itutinga Pilões do Parque Estadual da Serra do Mar. Há duas semanas, o personal trainer Fábio Campos, 42, pedalava na região com quatro amigos quando o pneu de uma das ciclistas furou –a hipótese é que os bandidos deixem pregos no local com esse objetivo.

Os ladrões chegaram armados e levaram a bicicleta dele e a de um amigo em direção à Vila Natal, bairro na periferia de Cubatão. “Parece que eles já estavam esperando. Lá passa muito ciclista”, diz Fábio.

No sábado seguinte, ele e o amigo foram à Vila Natal procurar as bicicletas e viram a de Fábio parada em frente a uma farmácia. Enquanto ligavam para a polícia, a bicicleta sumiu. “Acho que alguém percebeu, pois estávamos rodando por ali há algum tempo. Tenho certeza de que era a minha bicicleta. Na delegacia, me disseram que eu tinha achado uma agulha no palheiro e que tinha me arriscado muito”, conta ele.

A bicicleta do amigo dele foi recuperada pela polícia na última terça, na Vila Natal. Fábio conta que ele e o grupo de ciclistas que costuma fazer passeios na estrada estão pensando em soluções para reduzir o perigo: uma delas é contratar um segurança para pedalar com eles.

Fique esperto

1. Entornos de parques e avenidas onde há muitos ciclistas são os lugares preferidos dos ladrões. Fique duplamente atento nesses locais.

2. Nunca esconda a bicicleta ao estacioná-la na rua. Deixe-a em um ponto no qual o ladrão tenha a sensação de estar sendo visto, como em frente à porta de uma loja.

3. Escolha uma trava de qualidade, que não possa ser facilmente cortada com tesoura.

4. Se estiver em uma área de risco, use dois cadeados (um no quadro, roda traseira e poste e outro no quadro e na roda dianteira).

5. Se sua bicicleta for muito cara e de uma marca visada pelos ladrões (como Specialized ou Scott), uma opção é tampar o nome da grife com fita adesiva opaca.

6. Andar em grupo, principalmente à noite, é mais seguro do que andar sozinho.

7. Colocar fitas antifuro nos pneus ajuda a evitar que eles furem em armadilhas deixadas por ladrões.

8. Anote o número de série da bicicleta que está em relevo no quadro. Assim, será possível identificá-la caso ela seja roubada e encontrada.

Pelo mundo

Em Amsterdã, na Holanda, circulam cerca de 700 mil bicicletas, das quais 100 mil são roubadas todo ano. Por lá, as pessoas costumam “estacionar” as bikes nos postes, e o furto é feito lentamente, por partes.

O homem considerado o maior ladrão de bicicletas do planeta foi preso em Toronto, no Canadá, em 2008. No depósito mantido por ele, a polícia encontrou 2.865 bicicletas.

Em 2007, Paris colocou em circulação 20.600 bicicletas do modelo Vélib, alugadas a um euro a hora. Em dois anos, 80% foram depredadas ou roubadas.
Na China, o maior produtor de bicicletas do mundo, o roubo delas é um dos crimes mais frequentes. Só em Pequim, acontece um furto por segundo.
Com cerca de 16.000 bicicletas roubadas todos os anos, Copenhague instalou um chip eletrônico em 5.000 bicicletas. O objetivo do projeto, que começou no ano passado, é saber a localização da peça roubada para reavê-la.

Para complicar a vida dos ladrões, o inglês Kevin Scott, estudante de design industrial, inventou uma bicicleta que, quando dobrada, “abraça” o poste.
Há uma categoria de trava, extremamente resistente a cortes, que ganhou o nome de “new yorker”, em referência a Nova York, conhecida por “roubos sofisticados” de bicicletas.

Bicicleta a preço de carro

A BMC SLR 01 é uma das bikes mais caras vendidas na cidade (custa cerca de R$ 32 mil). É o modelo top da marca suíça, desenvolvida para corrida em provas curtas e longas. Conheça os recursos que ela tem:

Selim
Pesa 180 g. O trilho, de titânio, não enverga. A base é de carbono e o gel interno é compacto, que não se espalha quando a pessoa senta, o que traz amortecimento. Tudo isso garante mais conforto: o selim fica estável e o corpo não toma contato com a parte dura nos trancos.

Freio
É mais leve do que os comuns e de alta precisão.

Peso
Com 6,2 kg, é uma das mais leves do mercado. Para correr o Tour de France, seria preciso pôr lastro (peso), pois o mínimo exigido é de 6,8 kg. Suporta alguém de até 110 kg.

Guidão
De carbono que usa nanotecnologia, é resistente e ergonômico.

Parte traseira (Seat Stay)
É mais fina do que o normal e achatada (e não arredondada). Isso impede a torção lateral e traz mais conforto.

Junções
A bicicleta é feita quase por inteiro, sem junções nem soldas, o que a torna mais leve.

Trocadores de Marcha
Há apenas uma alavanca, o que agiliza a troca de marchas, pois permite mudá-las somente com um toque, curto ou longo.

Material
É de fibra de carbono que usa nanotecnologia, uma das mais evoluídas do mercado. As bicicletas simples geralmente são de alumínio, material mais pesado. Bicicletas com esse tipo de carbono ficam menos sujeitas à torção quando se coloca muito esforço no pedal.

Quadro
Pesa 920 g, pouco mais que 5 barras de chocolate. A fibra de carbono tem tecnologia TCC, na qual os filamentos são alinhados de acordo com a necessidade de rigidez ou conforto de cada parte do quadro.

Pneus
São de alta pressão, o que permite fazer uma calibragem mais alta e, com isso, reduzir o atrito e dar mais velocidade à bicicleta.

Pedivela
É de carbono. Os rolamentos do movimento central também são de cerâmica.

Rodas
Os aros são de um alumínio especial, mais rígido, que evita torções. Também há opções de carbono. Os rolamentos são de cerâmica, e não de aço, o que evita o aquecimento excessivo, reduz o atrito e permite ganhar mais velocidade.

Créditos:
Flávia Mantovani
Ocimara Balmant

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