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O uso da bicicleta na reconstrução de um mundo melhor

Enquanto o mudo flexibiliza a quarentena aos poucos, e a roda da economia lentamente volta a girar, as rodinhas da magrela nunca circularam tanto! O medo de contrair o novo coronavirus no transporte público fez muita gente aderir às bicicletas, a ponto de muitas lojas não darem conta da demanda.

No Reino Unido, a Broadribb Cycles, que normalmente vende de 20 a 30 bicicletas por semana, agora está vendendo 50 bicicletas por dia. A Halfords, maior cadeia de peças para bicicletas da Inglaterra, viu suas ações subirem 23% na primeira semana de maio.
E a tendência para o setor é de alta nos próximos meses.

Uma pesquisa recente da Consultoria Systra sugeriu que 61% dos britânicos não pretendem utilizar ônibus, trem ou metrô após o lockdown. Aqui no Brasil, a pesquisa ‘Viver em São Paulo: Especial Pandemia’, realizada pelo Ibope Inteligência em parceria com a Rede Nossa São Paulo, revela que 38% dos paulistanos pretendem se deslocar mais a pé e 20% vão usar mais bicicleta após quarentena.

“A maneira como as pessoas se deslocam pelas cidades nunca mais será a mesma, vamos ter um ‘novo normal’. Os sistemas de transporte público não podem funcionar em plena capacidade. Se as pessoas optarem por carros em massa, teremos um colapso no trânsito e um aumento na poluição do ar, a última coisa que precisamos em meio a uma pandemia é de doença respiratória. A solução é caminhar ou andar de bicicleta”, disse Will Norman, comissário de caminhada e ciclismo de Londres.

Os esquemas municipais de compartilhamento da Europa renovam suas frotas e miram agora na compra de bicicletas elétricas. E a infraestrutura? Com mais ciclistas, é preciso mais espaço seguro para pedalar.

Paris proibiu carros na famosa Rue de Rivoli, perto do Museu do Louvre, para priorizar as bicicletas. Em Roma, a prefeitura conectou as faixas existentes, livrando os ciclistas de enfrentarem estradas movimentadas e perigosas no meio da caminho. O grupo de ciclistas Cycling UK mapeou 100 faixas em 10 cidades inglesas que poderiam ser usadas para o ciclismo, usando uma faixa de carro em uma pista de rodagem dupla.

Mais de 100 cidades do mundo aderiram à recomendação da OMS de priorizar bicicleta e já criaram estruturas temporárias. Capitais como Londres, Bruxelas e Roma estão se esforçando para montar centenas de quilômetros de novas ciclovias. Paris está lançando 650 quilômetros de ciclovias; e na Alemanha, Itália e Espanha, muitas foram expandidas.

A Europa não está sozinha neste movimento de privilegiar a mobilidade sustentável, a partir da Covid-19. Nas últimas semanas, milhares de quilômetros de novas ciclovias foram construídas na Cidade do México, Nova York e Bogotá, desafiando o domínio do carro pela primeira vez em décadas.

Líderes e planejadores urbanos dizem que o coronavírus tem o potencial de remodelar fundamentalmente os sistemas de transporte, e esta é uma oportunidade única de promover metas de políticas verdes. “Estamos muito felizes. Há anos que estamos simplesmente pedindo um sinal de senso cívico e dignidade para os ciclistas”, disse Enzina Fasano, presidente da associação ‘Save the Cyclists’.

Os benefícios potenciais dessas mudanças não se restringem aos ciclistas, que melhoram a saúde física e mental. O uso da bicicleta ajuda a construir comunidades mais resilientes, reduz drasticamente a poluição do ar e pode ajudar a descarbonizar o sistema de transporte, um dos vilões da crise climática crescente. Mas os desafios são enormes e não se resumem a uma nova infraestrutura de transporte verde. É necessário convencer as pessoas a usá-la.

Por anos, governos e indústria colocaram carros e carros no centro de nossas vidas. Será preciso um grande esforço para desfazer isso. A pandemia do coronavírus ironicamente aponta para a direção certa da mobilidade urbana: a vida sobre duas rodas será a “volta por cima” na reconstrução de um mundo melhor.

 

Por: Rosana Jatobá

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