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Socadores de cascalho – Gravel Bikes!

No bike gravel, leve sua bicicleta de estrada para a terra e se divirta como nunca.

Para que ficar só no asfalto? Levar bikes de estrada para percursos de terra e pedregulhos – modalidade conhecida como gravel grinder – é o novo barato de quem ama pedalar.

Por Leandro Bittar

“Nunca tinha escutado essa expressão, mas sem dúvida curto pedalar com a minha bike de estrada em trechos sem asfalto.” Sem querer, o ciclista profissional brasileiro Alex Arseno resume uma tendência que começa a se popularizar nos EUA e na Europa sob os codinomes de gravel grinder (socador de cascalho) ou dirt road (estrada de terra). Essas palavras são ainda estranhas para a maioria dos ouvidos nacionais, entretanto bem próximas da realidade de quem pedala. Em português claro, muitos adeptos estão embarcando em longas e descompromissadas pedaladas por percursos mistos, com estradões de terra, asfalto e cascalho. Não se trata de uma grande novidade e, sim, de um retorno ao essencial do esporte – afinal foram as vias de terra batida que consagraram Alfredo Binda, Fausto Coppi e muitos outros, tornando o ciclismo de estrada tão popular quanto épico.

DIVERSÃO GARANTIDA: Todas as fotos são do grupo norte-americano Deux North, criado pelos irmãos
James e Dylan Nord para organizar pedais e celebrar a cultura do bike gravel (Fotos: Andy Bokanev/Specialized)

O cenário ainda está em ebulição e não há delimitações muito definidas. Nem mesmo se sabe se gravel grinder é uma modalidade específica, ou apenas um estilo de pedalada. Nos quase 200 eventos de gravel grinder agendados no calendário norte-americano em 2015, são bem-vindos todos os tipos de bicicleta, como mountain bikes, estradeiras, fixas e os modelos ciclocross (modalidade geralmente praticada em circuitos de terra e obstáculos, usando-se uma bike bem semelhante às de estrada).

O mote principal que move os adeptos desse “hobby” é o de viver uma experiência engrandecedora sobre duas rodas, em contato com a natureza e tendo a média horária como um mero detalhe secundário. O mercado já comprou a ideia e oferece cada vez mais opções de bicicletas de “estrada para todo terreno”, que reúnem características pontuais de diversas modalidades e corrigem os pontos negativos de cada uma delas, como explica o português Hugo Teixeira, da Specialized, fabricante que aposta no segmento gravel com o modelo Diverge. “Trata-se de uma bike essencialmente de estrada, porém com uma capacidade muito além do que você encontra em qualquer outra road.” A Diverge foi desenvolvida com base na geometria da Roubaix, modelo voltado para endurance da linha de estradeiras da Specialized, o que permite um conforto para longas pedaladas que uma ciclocross não tem.

O standover (a altura do tubo superior da bicicleta até o chão) de uma modelo de dirt road é menor, o que torna a bike menos arisca. Os pneus mais largos do que uma estradeira, junto com freio a disco, permitem ao ciclista ir pelo caminho que quiser, sempre com a possibilidade de poder descobrir novas rotas para um mesmo ponto – sem perder velocidade quando acaba o asfalto.

No Brasil, esse tipo de bicicleta ainda é pouco vista por aí, mas a receptividade tem sido bem avaliada pelo mercado. Há um potencial muito grande para uma bicicleta polivalente, evidenciado pela nossa malha viária. Segundo o Sistema Nacional de Viação, até 2014, 80% das estradas brasileiras não haviam sido asfaltadas. Isso significa 1,3 milhões de quilômetros de vias nas quais uma bike um pouco mais robusta pode atender melhor o ciclista.

Ciclista de estrada e integrante da seleção brasileira de pista no Pan do Rio, em 2007, Alex prefere desbravar caminhos com sua parceira diária de asfalto. “Para mim, há um gosto especial em encarar a terra com uma bicicleta de estrada. Até para experimentar o desconhecido, os limites. Normalmente, o melhor é ir pelas vias de chão batido. Dou uma olhada pelo mapa e depois tento fazer a rota, em uma brincadeira de erro e acerto”, diz. Contra os imprevistos, o ciclista aconselha um cuidado maior a ser tomado com a autossuficiência. “Tenha sempre água, comida e remendos de pneu. A chance de um furo aumenta muito em estradas ruins, com pedriscos.”

Assim como Alex Arseno, o ciclista gaúcho Edmilson Padilha Gutterres vive buscando rotas alternativas, mas apostou em um modelo de ciclocross para, como ele mesmo define, viver o melhor dos dois mundos. “Procurei essa alternativa por termos aqui na Serra Gaúcha muitas estradas legais, com acesso por asfalto. Eu me estressava um pouco com a falta de rendimento da minha MTB no asfalto e não queria ter uma estradeira. A ciclocross, com um pneu 700×35, serviu como uma luva”, explica Edmilson. “Recentemente começaram a falar comigo sobre essa onda de gravel e as similaridades com esse meu estilo de rolê”, afirma o ciclista.

O gravel é uma boa opção para quem quer ter apenas uma bicicleta, até mesmo para cumprir distâncias urbanas. A tendência, no entanto, é que ela ocupe um terceiro lugar (ou quarto, ou quinto) na coleção dos mais fanáticos. Uma bicicleta convergente, que representa a possibilidade de descobrir novos caminhos, sem limitações ou rótulos. Mais veloz que uma mountain bike, mais confortável que uma ciclocross e mais polivalente que uma road. Em qualquer estrada, uma bike assim é um caminho sem volta.

Novos caminhos

Conheça as características de uma bike de gravel:

Não há uma regra para sair do asfalto por longos quilômetros. A mountain bike é sempre uma opção óbvia, mas bicicletas de estrada, ciclocross e até fixas também encaram numa boa as pedaladas em cascalho ou terra batida. Uma série de adaptações, no entanto, fizeram com que surgisse uma bike que desponta como específica para a modalidade. As grandes fabricantes de bicicleta já compraram a ideia e agora passaram a oferecer opções em uma linha cada vez mais ampla de gravel. Veja quais são suas principais características:

 

1. Geometria das bikes estradeiras para endurance

2. Freio a disco para um melhor controle das frenagens

3. Maior espaçamento entre os tubos traseiros e do garfo para comportar pneus mais largos

4. Guidão de bicicleta de estrada

5. Movimento central mais baixo do que uma ciclocross, para maior estabilidade da bicicleta

6. Três suportes de caramanhola, para maior autossuficiência do ciclista.

 

Reportagem originalmente publicada na revista Go Outside edição 116, de março de 2015.

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