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Pedalando: repórter enfrenta ultramaratona de bike em Diamantina

Famosa pelo passado de exploração de metais e pedras preciosas e por seu patrimônio histórico, Diamantina, na região central de Minas Gerais, mais recentemente vem ganhando notoriedade por ser o palco da Sertão Diamante, uma ultramaratona de mountain bike que atrai centenas de ciclistas de todas as partes do país.

Nessa competição, os ciclistas pedalam por dois dias em trajetos que podem ultrapassar os 100 quilômetros, a maior parte deles em estradas de terra e trilhas. Além da distância, os atletas enfrentam terrenos acidentados, com pedras, valas e buracos, onde é alto o risco de queda e de acidentes, travessias por riachos e muita, muita subida.

O ‘Pedalando’ participou da edição de 2018 da Sertão Diamante, que aconteceu entre 21 e 22 de julho. Na soma dos dois dias, foram quase 160 quilômetros pedalados e 4.440 metros de subida acumulada. Mais detalhes sobre distância e altimetria estão no meu perfil no Strava.

Preparação

Participar de uma ultramaratona de mountain bike exige meses de preparação. No meu caso, cerca de seis meses, ao longo dos quais pedalei quase 2 mil quilômetros, com três a quatro dias de treino por semana, dentro da academia e na trilha.

Na madrugada de 20 de julho, parti de Brasília com um grupo de amigos em direção a Diamantina. Foram cerca de 10 horas de carro para vencer os quase 750 quilômetros entre as duas cidades.

Foram 1.070 ciclistas inscritos para disputar a edição deste ano da Sertão Diamante. A presença das centenas de atletas, e de seus familiares e amigos, muda a rotina da cidade de cerca de 48 mil habitantes, que tem como marca as ruas estreitas, as ladeiras e os casarões antigos.

No sábado, dia 21, acordo às 6h para começar a preparação para o primeiro dia da prova. O café da manhã precisa ser reforçado: pão, ovo, queijo branco, suco verde, frutas.

Para a trilha, é preciso levar comida também: castanhas, batata doce, paçoca, banana… O ideal é comer de hora em hora para manter a energia e concluir o pedal sem problemas.

Também é fundamental não descuidar da hidratação – que, aliás, já havia começado no dia anterior. Levo água e isotônico nas garrafinhas, que ao longo do trajeto podem ser reabastecidas nos cinco pontos de apoio disponibilizados pela organização.

Primeiro dia: 95 quilômetros

Tudo pronto, sigo para o ponto de largada, que fica no centro histórico de Diamantina, e que encontro colorido por um mar de ciclistas. Ciente da paixão dos brasilienses pelo esporte, já sabia que encontraria por ali muita gente do DF. Por isso, não foi surpresa a resposta quando gritei, no meio daquela multidão: “Quem é de Brasília aqui?”

Entre os representantes do Planalto Central, encontrei o administrador de empresas João Nogueira da Silva, de 49 anos, que mora no P Sul. Já empresário Elder Drumon, de 39 anos, e o auditor Adrien Rodrigues, são moradores do Guará. Todos eles disputariam pela segunda vez a Sertão Diamante. Pergunto a eles se vale a pena todo os esforço para participar da competição.

“Vale demais”, me responde o Adrien. “A prova é show de bola e estamos aqui para sofrer novamente.”

Encontro também uma galera de Sobradinho, Pedrote, Sávio, Gustavo e Leandro, parte de um grupo de 20 pessoas que enfrentaram cerca de oito horas em uma van até Diamantina. O que atrai esse pessoal até lá?

“Olha a bagunça!”, diz Pedrote, apontando para o mar de ciclistas concentrados para a largada.

Largo às 8h junto com os ciclistas que competem no percurso completo, que tem 95 quilômetros (a ultramaratona também oferece a opção de um percurso reduzido). No começo do pedal rola até congestionamento de bicicletas nas ruas estreitas do centro. Seguimos por uma subida longa de asfalto até que chegamos no inicio da trilha. O começo dela é todo em single track (em que apenas um ciclista passa por vez) e, por isso, ficamos mais cerca de uma hora enfrentando novos congestionamentos de ciclistas.

A partir daí, é possível pedalar mais rápido e curtir tudo o que a trilha tem para oferecer: subidas e descidas, algumas delas muito íngremes, longas e técnicas, que exigem muita técnica dos ciclistas – e que são as mais divertidas. Mas o prazer maior está no contato com a natureza, nas belas vistas ao longo da trilha e em fazer parte daquela festa com os amigos.

Pedalei cerca de 60 quilômetros muito bem, seguindo a estratégia de alimentação e hidratação e sem sinal de fadiga. A partir daí, apesar de não estar cansado, comecei a sentir muitas cãibras nas duas pernas e fui assim até o final do primeiro dia da competição.

A minha expectativa era de concluir os 95 quilômetros em no máximo sete horas. Porém, um pneu furado e principalmente as cãibras, me obrigaram a paradas que não estavam previstas e a reduzir o ritmo da pedalada. No fim das contas, cheguei ao ponto final próximo das 17h, ou seja, levei quase nove horas para fechar o primeiro dia da Sertão Diamante.

Segundo dia: 61 quilômetros

Concluído o primeiro dia, a preocupação é em se alimentar e descansar adequadamente para o dia seguinte. São mais 61 quilômetros de pedal, com 1.905 metros de subida acumulada, ou seja, muita ladeira.

Voltamos ao centro de Diamantina e dessa vez eu encontro o analista de sistemas Marcelo Veiga, que tem 39 anos e mora em Águas Claras. Pergunto a ele qual a expectativa para aquele segundo dia.

“Só concluir”, me responde ele. “Ontem [primeiro dia] foi bem duro, tô bem desgastado, bem dolorido.” A largada acontece novamente às 8h. Logo que a gente entra na trilha, esquece o cansaço e as dores e só quer curtir o último dia da competição.

A maior parte é em estradas de terra. Pouco depois da metade do pedal chegamos num dos trechos mais marcantes desse segundo dia. O single, bem longo, começa com uma descida muito técnica e rápida, cheia de valas e pedras. Quando ela termina, vem uma ladeira novamente cheia de pedras ou, como diz o pessoal do mtb, um “empurra-bike”, trecho quase impossível de transpor sobre a bicicleta.

Mais para o final da trilha, temos uma subida muito longa e íngreme, de mais de 5 quilômetros. Em alguns pontos ela vira quase uma parede e muita gente não consegue subir senão empurrando. O esforço, porém, é compensado por uma das vistas mais belas de toda a competição.

Ao contrário do primeiro dia, no segundo corre tudo dentro do planejado, sem problema técnico ou cãibras. Já no limite das forças, chego novamente ao centro de Diamantina. Até a linha final, é preciso enfrentar mais uma ladeira daquelas, já no centro histórico da cidade. Concluo os 61 quilômetros em 4 horas e 59 minutos.

Sentado na calçada, dolorido e cansado, passa pela cabeça ficar algumas semanas sem tocar na bicicleta. Mas quem é apaixonado pelo mountain bike sabe que isso passa rapidinho. Quatro dias depois eu já havia voltado aos treinos, ansioso por retornar a Diamantina em 2019.

Leia mais notícias sobre a região no G1 DF.

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