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Como foi participar do Santander Diverge Gravel Race 2022

Depois de várias tentativas sem sucesso, finalmente consegui de maneira nada planejada participar do Santander Diverge Gravel Race. A quarta edição do evento aconteceu no sábado, 10 de dezembro de 2022 na cidade de Botucatu, no interior do estado de São Paulo.

A prova é considerada por muitos a principal na modalidade gravel no país. Essas bicicletas ganharam força nos últimos anos aqui no Brasil e a sua versatilidade é uma das qualidades que tem feito os ciclistas optarem por esse modelo na hora de investir em uma nova bicicleta.

Para o propósito deste evento a “BICICLETA” é definida como: veículo consistido de um quadro montado em duas rodas, uma atrás da outra, e ter um selim, guidão DROP (tipo road) com manetes nas curvas e superfícies recoberta com fita específica para direção, dois freios manuais propulsionado pelo ciclista por dois pedais ligados à roda traseira por uma corrente ou cinta.

Preparativos

Não houve preparativo, tudo deu errado para no final dar certo. Deu pra entender? Eu explico. Decidi ir ao evento cerca de 2 semanas antes, como moro em Brasília mas vou ao Rio de Janeiro com frequência, decidi pegar um voo para Cidade Maravilhosa, levar minha bike e depois de alguns compromissos na capital Carioca, alugar um carro pela Unidas –  Que patrocinou o evento e forneceu desconto na locação do veículo – e seguir rumo a Botucatu.

Nem tudo saiu como planejado. Devido a 5 minutos de atraso, sem exagero, não consegui embarcar minha bicicleta pela Latam. Desistir? Nunca! Peguei meus acessórios como capacete, bolsas, sapatilha e levei junto, deixando “apenas” a bicicleta pra trás. Minha esperança seria alugar ou conseguir uma bike emprestada, e foi isso que aconteceu.

Ainda no Rio de Janeiro, com uma bicicleta emprestada e um carro alugado, assisti com alguns amigos a derrota do Brasil para Croácia. Ver a Seleção perdendo foi o gatilho necessário para esquecer esse esporte chamado futebol e focar no ciclismo. Sai do Rio de Janeiro por volta de 19h com destino a Botucatu, foram cerca de 670km feitos em quase 9h de viagem, passando por São Paulo, capital, parando em dezenas de pedágios e chegando em Botucatu às 4h da matina do sábado, mesmo dia que a prova seria realizada. Uma aventura cheia de incertezas das quais eu não recomendaria a ninguém, mas que deu certo : )

Chegando ao local do evento

Depois de dormir muito pouco, segui em direção ao local do evento, que é o Celeiro Restaurante. De longe já é possível ver a qualidade da estrutura do evento, não estou falando do tamanho, mas da qualidade do atendimento e do onboarding, que é o processo de recepção e reconhecimento do local.

Assim que cheguei fui recebido por algumas pessoas que fazem parte do evento de maneira super receptivas, já entregando alguns brindes, como as garrafinhas da Unidas. Lembrando que fui sozinho, sem nenhum grupo ao amigo, portanto essa etapa é super importante para eu me situar e me sentir bem no ambiente.

Assim que me aproximei do local de entrega dos kits o próprio Mario Roma estava por perto, ele conversava com alguns atletas e até fez uma breve observação sobre minha bike, que estava com a corrente caída. O ponto que gostaria de trazer é o “olhar do dono” do evento, que observou esse detalhe, mostrando o cuidado com o cliente.

Nesse mesmo local temos a nossa disposição algumas tendas, para entrega dos kits, hidratação e apoio mecânico. Primeiro fui até a entrega dos kits, me registrei, recebi meu kit e ainda um presente, que é essa linda bolsa da Draisiana, personalizada com a marca da Specialized e também com a possiblidade de incluir no velcro esses badges temáticos.

Achei sensacional esse cuidado, se trata de um item personalizado do evento, não é um produto que será comercializado pelas marcas, ou seja, algo único. O valor que o cliente dá ao receber um item como esse é enorme.

Após passar por essa recepção pra lá de excelente, com direito a presente e tudo mais, levei minha bike para o apoio mecânico da Shimano. Lembrando que minha bike acabava de ser adquirida, nunca havia subido nela antes! Pedi o apoio para regular o câmbio e lubrificar a corrente, além disso um pedido meio absurdo, o empréstimo de um pedal, pois o meu havia ficado no mala bike da bicicleta que não consegui levar para o evento. Os mecânicos da Shimano foram muito parceiros e me emprestaram um pedal compatível com minha sapatilha. Sem esse pedal dificilmente teria participado da prova. Valeu Shimano!

Equipamento utilizado

Como não consegui embarcar minha bike, consegui emprestada uma outra bicicleta nada modesta , se trata de Trek Checkpoint AL3, equipada com um grupo Shimano Sora R3000 de 9v, com coroa 50/34 compacta na dianteira e cassete de 11-32.

Se tratando de um empréstimo, peguei uma bike que não poderia fazer muitas escolhas, uma delas é o tamanho. Com 1.81 costumo utilizar bike tamanho 54 ou 56, com os devidos ajustes. No caso a bike era 58 (XL). Inicialmente me assustei com o tamanho da bike, mas confesso que fiz alguns ajustes e incrivelmente els ficou super confortável e ajustada. Acho que sou o homem borracha, pois mesmo com uma mesa de 110mm consegui pilotar essa bike sem sentir nenhum desconforto.

A bike é incrível, desde a construção do quadro com o Aluminum 200 Series Alpha que se mostrou super confortável até o grupo Sora. O selim também foi um fator supresa, uso 2 selins nas minhas bikes, um Brooks Cambium 17 e nas demais bikes o Specialized Power. No caso da Checkpoint usei o Bontrager Arvada Comp de 138mm e não tive nenhum descortos durante os quase 60km percorridos. O que foi uma bela surpresa.

O grupo Sora é um caso a parte, considero ele talvez um dos melhores grupos para equipar uma Gravel bike no Brasil, posso levantar alguns pontos em um outro artigo.

Como foram os 60km

Havia feito minha inscrição para categoria de 120km, mas devido a minha longa viagem do Rio de Janeiro até Botucatu, decidi ser mais sensato e mudei para categoria 60km, principalmente devido ao horário de largada, que seria às 11h.

Tudo resolvido, e com um breve briefing do Mario Roma sobre o percurso, iniciamos a largada às 11h da matina. Com um sol para cada participante partimos para os 60km que nos aguardavam. O percurso pode até ser considerado “light”, sendo que não existe nenhum trecho que não seja possível atravessar com uma Gravel Bike.

Fiz todo percurso com pneus Bontrager R1 700x32c e ouvi durante o percurso várias vezes outros competidores dizendo “esse pneu não é para esse tipo de pedal”, sendo que eu respondia com um sincero “Eu sei : ), mas é a primeira vez que subo nessa bike…”. E realmente não era o pneu ideal, uso normalmente pneus 700×42 ou até 700×50 na minha Specialized Sequoia.

Justamente por estar usando esses pneus, em diversos momentos perdi o controle da bike devido a quantidade de areia e de pedras soltas, mas nada intransponível. Outro problema é que também não pude descer com toda confiança do mundo, eu não queria furar um pneu ou causar alguma avaria em uma das rodas. Fiz todo percurso de estradadas de terra com cautela, essa mesma cautela não se repetiu nos trechos de asfalto, onde pude tentar compensar o tempo perdido.

O percurso de 60km é bem divertido, e acredito que é possível ser feito inclusive por ciclistas que estão voltando a girar. Na verdade são cerca de 52km com aproximadamente 850mts de elevação acumulada. Botucatu e Pardinho tem o privilégio de estar entre a Mata Atlântica e o Cerrado, conferindo fauna e flora diferenciadas com um clima típico de lugares com maior altitude.

Sobre os percursos

São 3 percursos, 60km, 120km e 180km, feitos por voltas de 60km, que passam pelo mesmo local da largada, sendo possível assim, se necessário, utilizar o apoio mecânico e de hidratação. O maior desafio de escolher o de 60km é superar o sol e administrar a hidratação, como a largada é realizada às 11h os participantes já começam fritando a cabeça, sendo que no km 28 tem um ponto de apoio logo depois da cidade de Pardinho. As largadas dos outros percursos são realizado bem mais cedo, com o de 180km saindo às 07h e 120km saindo às 08h.

E-Bikes ou E-Gravel : )

As E-bikes ou E-Gravel como o evento as apelidou, também largam às 08h e precisaram percorrer os 120km, foi possível ver algumas passando por mim durante os trechos de subidas, de maneira suave e tranquila, quase não se vê a tristeza nos olhos dos pilotos das máquinas elétricas, bem diferente de nós, meros mortais de catraca movida 100% a propulsão humana : ) As E-bikes são são nem tendência, são uma realidade, elas entregam o que outras bikes não conseguem de maneira eficiente e humanamente possível, que é a AUTONOMIA. Elas fazem com que você consiga percorrer um caminho em menor tempo e desgaste, e isso possibilita você pedalar mais, com mais qualidade durante e depois da prova.

Cuesta Paulista, o paraíso do ecoturismo

Copyright: Fabio Piva / Brasil Ride

Botucatu e Pardinho ficam na região batizada como “Cuesta Paulista”. Região que tem paisagens deslumbrantes e queijos premiados. A mais de mil metros de altitude na escarpa da Cuesta Paulista, a cidade de Botucatu encanta pela sua vista panorâmica do horizonte sem fim. Tanto na alvorada quanto no entardecer, entre morros e colinas, os cenários são de tirar o fôlego e proporcionam aquela foto perfeita, sendo muito procurados por noivos e aventureiros.

Botucatu é a porta de entrada desse paraíso que se estende até onde a vista alcança, sobre o maior reservatório de águas subterrâneas das Américas, o aquífero Guarani, onde se encontram inúmeras nascentes da mais pura água cristalina. Não à toa, as trilhas da região recebem nomes indígenas e a formação rochosa mais famosa é chamada de Pedra do Índio. A localização, a altitude e o clima fizeram com que Pardinho se tornasse a terra do queijo, recebendo vários prêmios.

Nada como se deliciar nas atrações de natureza oferecidas pela cidade de Pardinho, como formações rochosas, cachoeiras, trilhas, ar puro e um clima pra lá de especial. Hospedagens diferenciadas e intimistas, parques, bons restaurantes, cafés e um dos mais belos cenários para o turismo contemplativo bem no coração do estado de São Paulo.

Considerações finais

Realmente não se trata apenas de uma simples corrida de bicicleta. É sobre viver uma experiência padrão Brasil Ride. O percurso como detalhei, é possível encontrar em qualquer região mais próxima de você, mas a experiência de perceber que valeu a pena se deslocar e fazer esse investimento é algo gratificante, sem decepções. E essa boa experiência vai desde o tratamento recebido pelo staff da organização até as dezenas de itens que contemplam o kit do atleta. O que fica na memória na minha rápida passagem por Botucatu é a certeza de que vou participar de outros eventos realizados pelos mesmos organizadores. Até a próxima.

 

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