Skip to content Skip to footer

Cicloturismo – O que Levar

Por mais tranquila que uma viagem de bicicleta possa nos parecer, sua concretização depende de nossas próprias capacidades. Desta forma, por si só a viagem toma um caráter de aventura, este é um dos motivos desta atividade ser tão prazerosa.

Em uma aventura o planejamento é algo importante. Neste planejamento muitos acreditam que para estarem preparados devem carregar tudo o que pode ser necessário durante a aventura. Esta tática me parece correta em uma viagem de barco, mas na bicicleta creio ser equivocada. No mar não temos como conseguir o que vier a faltar, por outro lado, cem quilos a mais ou a menos em um veleiro não fará muita diferença.

Ao contrário, na bicicleta, a cada peso retirado já percebemos ganho de rendimento. A melhor técnica para bicicleta é levar o mínimo possível, tentando comprar as coisas que se oferecem no caminho ou adaptar o que temos para suprir alguma eventual necessidade.

Mas o que é o mínimo? Bem, aí depende muito para onde vai viajar.

Cada destino ou caminho impõem necessidades próprias. Muito calor, muito frio, muita chuva, desertos áridos, regiões populosas com facilidades pelo caminho, ou então, como acontece em uma grande viagem: tudo isto junto e mais um pouco.

Outro fator igualmente importante é a força física, a necessidade de conforto e a capacidade de adaptação do cicloturista, tudo isto faz variar as necessidades e a possibilidade de satisfazer os caprichos pessoais.

Pretendo começar agora uma série de matérias dedicadas a comentar cada equipamento a ser levado em uma viagem de bicicleta. Percebo que já existe extenso material falando de cada peça da bicicleta, mas pouco se fala sobre as tantas outras coisas que levamos em uma viagem, mesmo sem precisar. A rigor, qual a diferença de peso entre o pedivela de um grupo e de outro? Uma centena de gramas? Com diferença de valor que pode chegar a milhares de reais seria melhor trocar aquela velha calça jeans por uma calça de tactel e teríamos a mesma redução de peso total na bicicleta.

“Mas Olinto, eu não me sinto confortável com estes tecidos modernos, não consigo me adaptar a eles.” Aí vem o fator humano que muda tudo, cada um tem que encontrar seu equilíbrio para viajar confortavelmente, só não pode querer carregar e ao mesmo tempo não sentir os efeitos da carga, isto seria irreal.

Acredito que o que levamos na viagem é algo pessoal e cada um deve desenvolver seus próprios parâmetros, não quero ser o dono da verdade só por ter alguma experiência de viagem. Gostaria de começar a comentar uma lista básica do que levar em uma viagem de bicicleta para aqueles que pretendem viajar por um dos tantos circuitos brasileiros que, a rigor, sempre oferecem acomodações.

Neste caso, excetuando-se as ferramentas e peças de reposição, um cicloturista poderia ter como ideal os mesmos 7 quilos de peso carregados pelos peregrinos de Santiago, o que vier a mais é luxo:

  • 2 uniformes completos para pedalar;
  • 1 camiseta de algodão para dormir;
  • 1 calça que vira shorts de tactel (ou outro nome comercial como suplex ou jacytel) para vestir após a pedalada; 
  • 1 kit de higiene com papel higiênico;
  • 1 kit primeiros socorros; 
  • 1 toalha pequena;
  • 1 chinelo ou sandália;
  • 1 canivete (para lanches no caminho);
  • 1 equipamento de chuva conforme a preferência;
  • 1 casaco para quem viaja no inverno. Para o verão um fleece leve (também conhecido como polar, soft ou pile) é suficiente;
  • 1 filtro solar;
  • 1 óculos escuros;
  • 1 lanterna de cabeça, pode servir para pedalar;
  • 1 jogo de ferramentas e kit de peças de reposição.

Roupas para pedalar – sistema básico para viagem

Muitos cicloturistas derivam do mountain bike e assim sendo trazem tradições desta modalidade que nem sempre são ideais para o cicloturismo.

Quando falo “dois uniformes” me refiro à roupa de pedalar, ao invés de carregar uma para cada dia de viagem, o ideal é ter como rotina lavar, você mesmo, sua roupa todos os dias, assim só irá precisar de dois uniformes, um que está utilizando e o outro que está secando, mantendo uma terceira muda de roupa para caminhar um pouco a noite pela cidade, dormir e/ou como coringa num dia que não deu para lavar ou secar o uniforme de pedalar.

Um uniforme tradicional de ciclista tem as vantagens de ser aerodinâmico, facilitar movimentos, evitar pelos encravados, secar rápido e ter uma almofada. Entretanto, alguns tecidos sintéticos podem se tornar incômodos se utilizados diuturnamente. Mesmo quem é acostumado a fazer trilha todos os finais de semana pode se sentir incomodado após uma semana de viagem utilizando somente uniformes de ciclista.

Após uma semana de viagem as pernas estão cada vez mais fortes, mas a virilha fica cada vez mais sensibilizada, por isto é importante, logo que parar de pedalar, tomar banho e deixar esta área bem arejada.

Acredito que a almofada seja a parte mais polêmica do uniforme tradicional de ciclista. Junto com suas propriedades amaciantes vem o constrangimento da ventilação, o que aumenta o calor e a umidade. Durante um final de semana não percebemos problemas, mas em uma viagem longa o calor e a umidade amolecem a pele, que se fere com facilidade. No momento que está lavando o calção perceberá que a almofada sempre fica impregnada com o suor, o óleo e os sais corporais e nem sempre seca de um dia para o outro.

Estes fatores fizeram com que, na volta ao mundo de bicicleta, eu fosse obrigado a retirar as almofadas dos meus calções. Atualmente utilizo calções de tactel e por baixo cuecas shorts de modelos variados para mudar o ponto de abrasão, mas todos os modelos não têm costuras no cós. Esta combinação aliada a um selim de gel, facilita a higienização das roupas e permite que a virilha receba ar todas as vezes em que saio do selim da bicicleta.

É bom lembrar que se em uma viagem  machucarmos a virilha, podemos comprometer a realização da viagem, pois é uma região de difícil recuperação.

Estranhamente é pouco comum encontrar camisas de ciclista com zíper inteiro, então, acabei utilizando camisas de manga comprida também de tactel com botões. Desta forma não preciso utilizar protetor solar nos braços e controlo melhor a temperatura, pois posso pedalar com a camisa aberta proporcionando grande ventilação.

Por último, acredito que a simples análise crítica de nosso equipamento pode demonstrar equívocos e até mesmo oferecer grandes lições. Quando comecei a volta ao mundo tinha 70 kg de peso total da bicicleta. Devo ser honesto em dizer que em minha inocência de primeira viagem, de certa forma, achava o máximo carregar muitas coisas, parecia que quanto mais carga maior seria a aventura. Como não sou muito forte e tinha que carregar com meu próprio esforço tudo o que precisava, os primeiros 1.000 km de viagem me ensinaram que precisava de muito pouco para viver. Fui eliminando tudo que me parecia pouco útil e desta forma fui ficando mais leve, pude chegar com maior facilidade cada vez mais longe. Quando cheguei ao Brasil o peso total da bike era 50 kg.

O aprendizado não foi tão suave assim, quando enfrentei o inverno europeu o peso total da bicicleta foi o maior de toda a viagem. Mas esta história fica para a próxima.

Por Antônio Olinto

1 Comentário

  • Arestides Porangaba
    Posted 4 de outubro de 2017 at 14:29

    Bom dia companheiros.
    Sou Arestides Porangaba, 76 anos, consultor empresarial ainda na ativa e apaixonado por bike e cicloviagens (nove anos que pratico). Para me ocupar e poder transmitir minhas experiências vivenciadas nestes últimos anos com algumas viagens ciclisticas (Caminho de Santiago de Compostela duas vezes, Patagonia Chilena e Argentina, Duas pernas da Estrada Real, Caminho do Imperador e Circuito do Vale Europeu) estarei lançando o Blog Bikeando Alhures ainda em Outubro.
    Peço permissão e autorização dos responsáveis para eu divulgar no meu Blog assuntos, notas e notícias importantes e interessantes publicadas por vocês. Sempre farei citação das fontes.

    Responder

Deixe um comentário

0/5