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O vírus da insensibilidade contamina todos nós

Estava dirigindo e por um instante resolvi pegar meu celular, para dar aquela conferida rápida, quando voltei a ollhar a pista por pouco não atingi um ciclista folgado, veja só, o cara estava ocupando uma parte da via, um absurdo, até pensei que era meu irmão, o Álvaro, que agora com 45 anos resolveu virar ciclista, pedala todo dia, e eu pergunto, pra que? Vai querer disputar uma olimpiada agora? Aff.

Um dia de semana normal, cheguei em casa e resolvi descansar um pouco, na pressa pedi um lanche em um desses aplicativos de comida. Bem, comi meu rango e fiquei um pouco na sacada quando derrepente ouvi um barulho de sirene, e era dos bombeiros. O barulho foi intensificando, chegando perto.

Era plena pandemia, alguns utilizando máscaras, outros já não se importavam e estavam andando com o rosto livre, desafiando o vírus. Com a movimentação e a quebra repentina da rotina devido a essa barulheira, os vizinhos começaram a se aglomerar nas janelas. Seria um incêndio? Um resgate de um paciente grave com COVID? Um trabalhador que caiu do andaime? Um vazamento de gás? Um curto-circuito? Ou seria mais um coração partido?

Na avenida em frente ao meu prédio, aparece uma ambulância dos Bombeiros, em minutos surgem mais duas, já são três! Parece que ocorreu alguma coisa muito grave! Acompanhei meio que distante todo aquele frenesi dos meus vizinhos, todos em suas varandas gourmet. Fique surpreso e também ao mesmo tempo preocupado com a minha indiferença frente à situação. Não estava sentindo absolutamente nada. Será que já estou ficando acostumado com tragédias? Estaria eu me conformando com esse mundo cruel? Será que ao longo dos anos havia sido contaminado pelo vírus da insensibilidade?

Vários bombeiros estavam ali em frente tentando salvar a vida de uma pessoa. Ao lado do corpo ainda em vida, havia uma bicicleta. Pronto! Agora entendi, mais um ciclista desavisado que entrou na frente de um carro, só pode ter ocorrido isso. Olho novamente pra cena e não vejo nenhum carro batido nem o motorista que provavelmente atropelou o ciclista, mas também, o que esse cara estava fazendo pedalando logo ali?

Por um momento minha insensibilidade misturou-se com surpresa. Um dos bombeiros corria rumo ao meu prédio. Não havia sinal de fumaça. Nem cheiro de gás. Tudo parecia seguir dentro da normalidade. Ouvi uma correria pelas escadas. Seria alguém preso no elevador?

O volume dos diálogos e o barulho das botas dos soldados denunciava a proximidade. Estavam exatamente no meu andar. Algo não estava certo. Corri para a porta. Antes que pegasse a chave e tocasse a maçaneta, bateram na porta da minha casa. Alguém me denunciou? Alguém fez uma chamada de emergência? Meu coração parou e eu nem tinha notado.

– Você é o Sr. Antônio Soares? – disse o Bombeiro.
– Sim, sou eu mesmo.
– Você é irmão do Sr. Álvaro? – questionou o bombeiro.
– Sim, meu irmão se chama Álvaro, por que?
– Fizemos de tudo para salvá-lo, infelizmente ele foi atropelado por um veículo aqui em frente. disse o Bombeiro.

Percebi que uma parte minha tinha morrido. Senti raiva, tristeza e saudade.


Atropelamentos de ciclistas são trajédias que se repetem diariamente no Brasil:

Corpo de ciclista atropelada e morta em SP é enterrado em Niterói

Marina Kohler Harkot, de 28 anos, foi atropelada na madrugada de domingo, 8/11/20, enquanto pedalava pela Avenida Paulo VI, na Zona Oeste de São Paulo. Polícia procura motorista que dirigia o veículo.

O corpo da ciclista Marina Kohler Harkot, atropelada e morta em São Paulo neste domingo (8), foi enterrado na manhã desta segunda-feira (9) no Cemitério São Francisco Xavier, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio.

O velório de Marina, de 28 anos, ocorreu neste domingo (8) em São Paulo. A Associação de Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade), na qual a jovem já foi coordenadora, fez uma homenagem à vítima em um protesto na Praça do Ciclista, na região da Avenida Paulista. A ação acabou em frente ao local onde ela era velada.


Morte de ciclista atropelado em acostamento na BR-080, no DF, completa 1 ano e família pede justiça

Renato Carlos Rezende dos Santos foi atingido por motorista que tentou fazer ultrapassagem em local proibido. Caso ocorreu no dia 17 de setembro de 2019.


Ciclista morre após ser atropelado na Asa Norte; motorista fugiu sem prestar socorro.

Um motorista atropelou dois ciclistas, na Asa Norte, em Brasília, pouco antes das 22h do dia 09/10/20. Um deles, Ricardo Aragão, de 58 anos, morreu no local. Uma mulher, que estava na outra bicicleta ficou ferida “sem gravidade”, disse o Corpo de Bombeiros. Segundo a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), o motorista fugiu sem prestar socorro.


Ciclista morto em atropelamento na Barra reclamava de más condições das pistas

Artur Vinícius Sales deixou filha de 3 anos e esposa grávida, após colisão com ônibus na Avenida Salvador Allende.


Atendimentos a ciclistas atropelados crescem 57% de 2010 a 2019 Em 2020 SUS registrou 690 internações

O número de atendimentos hospitalares a ciclistas atropelados cresceu 57% entre 2010 e 2019. Passaram de 1.024, em 2010, para 1.610, em 2019. Em 2020, até junho, já foram pelo menos 690 internações registradas no Sistema Único de Saúde (SUS). Nos últimos dez anos foram quase 13 mil internações e R$ 15 milhões a cada ano no tratamento de ciclistas que colidiram com motocicletas, automóveis, ônibus, caminhões e outros veículos de transporte.


 

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