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Precisamos falar sobre a insegurança nas trilhas!

Para quem está acostumado a descer e subir serras das vizinhanças da capital, solução para driblar o perigo é criar trilhas legalizadas, ciclovias e parques.

Trilhas legalizadas, criação de ciclovias em larga escala e de parques, além de estar sempre alerta e usando todos os EPIs são algumas das medidas sugeridas pelos ciclistas para evitar acidentes, e criar uma estrutura mais segura para os ciclistas. O número de praticantes do ciclismo vem crescendo muito, acentuado pela pandemia. A discussão, que já vinha sendo feita entre praticantes, autoridades públicas e empresários, recebeu maior atenção com a morte do ciclista Marcelo Soares Santos, de 45 anos, atropelado por um caminhão de mineradora.

O acidente ocorreu numa trilha que pertence à Mina de Águas Claras, da Vale. Em tese, Marcelo não deveria estar ali, mas praticantes ponderam que, para chegar às trillhas – em se tratando de Minas Gerais, que tem o melhor relevo do Brasil para a modalidade – é impossível não passar por alguma área particular e/ou de mineradoras, principalmente na Região Metropolitana de BH.

A saída, segundo especialistas, seria a criação de acessos bem sinalizados e de uma cultura em que acordos estabelecidos entre ciclistas e proprietários de terras por onde passam trilhas e ciclovias garantam a segurança e evitem outros acidentes fatais.

Se por um lado o aumento de adeptos anima o comércio do setor numa época de crise, por outro são muitos os iniciantes em meio ao tráfego pesado de veículos, o que é perigoso diante da combinação entre evolução tecnológica e falta de experiência.

“Bikes velozes e um número grande de carros em pistas quase sempre sem acostamento fazem parte da rotina de quem pedala regularmente”, explica o atleta Walfried Weissmann, 42, que pedala desde os 10 e é conhecido no meio pelo personagem de seu canal de dicas e informações sobre ciclismo Bob Show, referência no Brasil.

Praticante das modalidades Speed (em asfalto) e MTB (em trilhas), ele alerta para os perigos que corre quem está começando e/ou voltando a pedalar: “Muita gente que andava no passado e que agora está voltando tem que saber que tudo mudou. Os estradões estão mais movimentados com tráfego pesado, as trilhas estão mais técnicas, as bikes evoluíram (freios, quadro, suspensão), o que proporciona mais velocidade e mais risco. E ainda tem uma parcela grande de pessoas que começou a andar agora, na pandemia, e que portanto não tem experiencia”.

Outra questão fundamental para bikers de primeiro pedal é buscar orientação de alguém experiente, de forma a não se meter em encrencas.

“Não dá para procurar um grupo agora porque não se pode aglomerar, mas uma boa saída seria procurar uma loja especializada, com pessoas experientes com didática, que ensine a respeitar seu nível e/ou habilidades”, explica Weissmann.

Ele ainda completa: “Rodeada por montanhas com ótimas trilhas e por vias extensas com os mais diversos relevos que favorecem a prática do esporte, somado ao fato de que, durante a pandemia, uma multidão migrou das academias e dos transportes coletivos para pedalar, ciclistas devem ficar atentos aos perigos nos caminhos escolhidos, seja pelo asfalto ou pela montanha”.

Fatalidade

A morte do ciclista Marcelo Soares Santos, atropelado no fim da manhã de 29 de julho, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, apesar de ter chocado praticantes, é vista como uma fatalidade. Ela poderia ter sido evitada, mas é passível de acontecer, pois muitas trilhas passam em áreas particulares e/ou de tráfego intenso de veículos pesados.

O acidente ocorreu em trilha que pertence à Mina de Águas Claras, da Vale, e o motorista do caminhão precisou ser alertado do ocorrido, pois na hora nem viu que havia atropelado Marcelo. Segundo informações de testemunhas, a trilha é muito usada por ciclistas para praticar esporte, mas o acesso é proibido.

“Em muitas das trilhas, o ciclista vai acabar passando por área de mineração. Só que normalmente passamos por essas estradas num domingo, quando o movimento é menor. Mas agora na pandemia todo mundo está pedalando todos os dias da semana, e daí ir num dia de semana enfrentar este trânsito que não existe num domingo por exemplo, é diferente e mais arriscado”, pondera Weissmann.

Parcerias para driblar os riscos

Dentro da proposta de legalizar rotas já tradicionais para os praticantes de MTB, já existem algumas iniciativas em andamento. O Projeto Trilhas está no processo de criação de um parque da trilha “Perdidas”, em Nova Lima, uma das mais famosas da região, e já tem o aval da Vale, proprietária de parte do terreno. Falta, agora, o consentimento de outra mineradora, a AngloGold Ashanti, dona da outra parcela do espaço.

A preservação de Perdidas é pauta de reuniões há cerca de um ano. Entidades como a ProMutucas, a Associação Mountain Bike BH, o Projeto Trilhas e a Associação dos Condomínios Horizontais (ACH) defendem a transformação do espaço em unidade de conservação.

Para Frederico Lanna, que milita nas entidades e compõe o Conselho Municipal de Defesa e Conservação do Meio Ambiente (Codema), o reconhecimento é importante para valorizar o local de “nascimento” do mountain bike na RMBH.

“É a trilha mais importante da Região Metropolitana. Reconhecer que, além da trilha, toda a área é relevante ambientalmente e para a prática do esporte mostra a vocação de Nova Lima para o esporte e para o turismo”, projeta. A Prefeitura de Nova Lima aguarda a sinalização positiva da AngloGold para iniciar os trâmites rumo à oficialização.

Outra iniciativa considerada de sucesso por bikers que treinam na região de Nova Lima foi a reconstrução da trilha Milkshake, que passa por terras particulares. Após negociação e a promessa de que ciclistas não invadiriam mais áreas não permitidas, o dono do terreno financiou a reforma da nova Milkshake, com planejamento técnico e acesso garantido, como conta Weissmann.

“Foi incrível! As pistas, que já eram legais, ficaram ainda mais técnicas. Com pouco tempo o pessoal entendeu que o novo caminho nao foi feito à tôa e, rapidamente, as pessoas comecaram a respeitar o espaço. É preciso multiplicar estes diálogos. Vamos chegar aos donos e propor melhoras para ambos os lados, investir no esporte e facilitar para que algumas áreas muito usadas deixem de ser clandestinas”, ressalta.

Atleta faz o alerta

Se por um lado a melhoria das ciclovias e trilhas, o aumento de praticantes e a criação de parques fortalecem a adesão ao esporte, por outro os perigos de acidentes ciclísticos são ainda maiores por causa do avanço tecnológico das bicicletas, cada vez mais leves e velozes.

Em suas redes sociais, a atleta olímpica de MTB Jaqueline Mourão alertou sobre os perigos letais da evolução do esporte, que deve ser praticado com cautela. Em uma postagem, ela afirmou que “nunca viu tanta gente machucada por causa de MTB”.

A atleta se disse impressionada em ver tantas lesões de companheiros de esporte e dela mesma, que teve três tombos graves e uma concussão. Mourão ainda citou o caso de uma amadora canadense, mãe de três filhos, que morreu após tentativa de um salto.

“Respeite seus limites! Treine a progressão, o equilíbrio, levantar a roda dianteira, bunny hop, pequenos saltos, meio-fio, matricule-se em escolinhas de MTB até se sentir à vontade para tentar saltos! E as pessoas à sua volta, por favor, estimulem somente se você tem certeza que a pessoa já tem todos os princípios técnicos necessários para enfrentar o desafio, o ‘você consegue’, ‘é fácil’ ou ‘me segue na mesma velocidade que vai’ só funcionam se a pessoa souber o que fazer!”, alerta.

Para Weissmann, o cuidado deve ser redobrado, pois as vias são ruins, estreitas e em muitos locais não há sequer acostamento: “BH tem que mudar um pouco a cultura, pois se você subir num passeio te xingam. Se vai pra rua, o carro te pressiona. Como ciclistas, às vezes me sinto sem lugar. Construíram algumas ciclovias, mas ainda são poucas dado os trajetos que fazemos, no caso de atletas que treinam constantemente”.

Nas estradas, além de carros e caminhões em alta velocidade, pistas com defeitos e quinas que podem gerar um tombo ou arames e cacos de vidro que cortam pneus são alguns dos obstáculos no caminho de quem prefere a categoria de velocidade no asfalto.

A solução é conviver com a pressão diária. “Se sou atleta e preciso treinar, tenho que ir do jeito que dá e ir tomando todos os cuidados, pra mim e para os outros”, analisa Weissmann.

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